COVID-19 E TRABALHADORES DE HOSPITAL: UMA EXPERIÊNCIA DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

Carla Julia Segre Faiman, Renata Gomes Goios Rocha, Andrea Cristiane Santos Garanhani

Resumo


INTRODUÇÃO: O contexto de pandemia de Covid-19 (Coronavirus Disease 2019) tem afetado a todos, configurando um panorama de crise com amplas repercussões. O número crescente de doentes, a saturação dos sistemas de saúde, a gravidade com que a doença se manifesta em alguns dos contaminados e a falta de conhecimento sobre ela são alguns dos fatores que denotam a gravidade do contexto. Perda de entes queridos, limitação do contato entre as pessoas e imposição de protocolos de higiene e de segurança impactaram a vida das pessoas. Para quem trabalha em hospital, acrescenta-se, ainda, uma proximidade maior com a doença e com a morte no próprio ambiente profissional. Os potenciais efeitos psicológicos dessa situação demandam atenção e mobilização de cuidados à saúde mental. OBJETIVO: Descrever um plano de atendimento psicológico a funcionários de um hospital formulado e colocado em prática durante a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19. DESENVOLVIMENTO: Os atendimentos foram realizados por telefone a trabalhadores adoecidos pela Covid-19. O número de consultas para cada trabalhador/paciente não era definido a priori, variando de acordo com a demanda e as possibilidades. Como referenciais teóricos, foram levados em conta princípios das consultas terapêuticas descritas por Donald Winnicott e a noção de psicoterapia de apoio, postulada por Hector Fiorini. Dentre as pessoas atendidas, havia profissionais de diversas formações (médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, oficiais administrativos etc), com características e histórias de vida diversas. A forma como a Covid impactou cada um também foi diversa para cada caso. CONCLUSÃO: A experiência mostrou que foi possível, no modelo proposto, o estabelecimento de vínculos favoráveis ao trabalho psicoterapêutico, promovendo a necessária assistência aos trabalhadores que buscaram o atendimento. Pode-se considerar, portanto, que o modelo de abordagem e de atendimento psicológico criado durante a pandemia de Covid-19 pode ser utilizado em outras situações que imponham desafios semelhantes.


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