Atenção ao cotidiano para promover saúde mental: uma experiência extensionista

Roberta Vasconcelos Leite, Letícia Perígolo Jorge, Júlia Campos da Costa Pereira, Ingrid Priscila Alves de Morais, Josiane Aparecida Lima, Yuri Elias Gaspar

Resumo


Em contexto de expansão do sofrimento psíquico, inclusive no meio acadêmico, o modelo biomédico e a medicalização das dores humanas revelam-se ineficazes. A partir dessas provocações e do interesse em construir uma ação calcada na humanização da atenção à saúde mental criou-se o projeto de extensão “Garimpando o cotidiano” na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM. O objetivo da iniciativa é realizargrupos de elaboração da experiência para promover a saúde mental da população de Diamantina (MG), abarcando as comunidades universitária e externa. A Fenomenologia é o referencial adotado, pois essa corrente fundamenta a valorização da atenção em acontecimentos cotidianos como estratégia de cuidado. A metodologia inspira-se no Programa Grupo Comunitário de Saúde Mental de Ribeirão Preto e na Terapia Comunitária Integrativa. Todos os encontros são abertos e de participação voluntária e incluem momentos de compartilhar elementos culturais reconhecidos como belos e acontecimentos significativos do dia a dia. Em 15 meses, realizaram-se 43 encontros: 23 nos dois CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da cidade, 2 em outras instituições de saúde e 18 na UFVJM, totalizando 1001 participantes. Cumpriram-se e superaram-se as metas estipuladas. O relato dos graduandos e pós-graduandos envolvidos e o retorno dos participantes indicam a pertinência da iniciativa em suscitar atenção aos processos pessoais e interpessoais de cuidado. Valorizar a beleza e riqueza do cotidiano favorece o empenho de cuidado com o outro e consigo mesmo, bem como capacita profissionais em formação a reconhecerem que toda pessoa possui habilidades, dificuldades, sofrimentos e capacidade de resiliência.

   

Palavras-chave


Saúde mental. Grupos terapêuticos. Fenomenologia.

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DOI: https://doi.org/10.23901/1679-4605.2021v17p402-414

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