Intercâmbio cultural e identidade: um estudo das repercussões da aprendizagem da língua inglesa no exterior na identidade de jovens graduandos

Sylvia Cristina de Azevedo Vitti

Resumo


Este trabalho investiga e estuda as relações entre a experiência de intercâmbio cultural no exterior e as repercussões disso na identidade de jovens graduandos, visando analisar e compreender como a aprendizagem de uma nova língua, no caso a inglesa, e a assimilação de aspectos culturais da mesma e do seu povo podem afetar o processo de “construção/desconstrução” da identidade de jovens que vivem a experiência de imersão cultural em países anglófonos. O presente trabalho estuda o ser humano e considera seu caráter ativo, como sujeito que interpreta o mundo continuamente e produz significados. Partindo-se do pressuposto de que o ser humano, como ser cultural e social, constitui a linguagem e é constituído pela mesma, são analisadas a importância, as articulações e a interdependência da cultura, linguagem e relações sociais na formação da identidade dos seres humanos, com base na leitura das obras de teóricos contemporâneos que tratam da identidade humana. É apresentada uma análise do atual status da língua inglesa como língua internacional na era da globalização, assim como do seu uso e ensino nas escolas públicas e privadas no Brasil e também em outros países do atual mundo globalizado, no qual esse idioma se impõe como língua internacional, global ou língua franca. São apresentadas articulações entre educação, educação intercultural, educação sociocomunitária e possíveis transformações sociais decorrentes do processo de interculturalidade com base em escritos de estudiosos do assunto, segundo os quais a educação interculturalestimula a abertura para o diálogo e a negociação com culturas diferentes, o reconhecimento e valorização do “diferente” e do “outro”, das diferenças culturais e sociais, colocando os indivíduos em contato com novos costumes, crenças e valores, alargando o seu horizonte de compreensão da realidade. Em consonância com essas considerações, a vivência no exterior é um fator que favorece transformações pessoais, grupais e sociais, mediante o desenvolvimento da capacidade pessoal de reflexão, de crítica, de autonomia e de emancipação dos sujeitos. Participaram da pesquisa dezessete (17) estudantes, graduandos de ambos os sexos, que foram contemplados com bolsas de estudo para intercâmbio cultural em países de língua inglesa - Estados Unidos da América do Norte e Inglaterra. As bolsas de estudo foram concedidas pela instituição em que estudavam, duas unidades de uma Faculdade de Tecnologia, do governo do estado de São Paulo, situadas nas cidades de Piracicaba e Americana, dentro do “Programa de Intercâmbio Cultural do Centro Paula Souza”, assim como pelo programa “Ciência sem Fronteiras”, criado pelo Ministério da Educação e Cultura - MEC, em 2012. Os jovens, sujeitos da pesquisa, foram entrevistados e sua fala foi registrada e analisada. Os dados coletados são apresentados, analisados e discutidos à luz dos pressupostos teóricos adotados para a fundamentação da pesquisa no tocante à compreensão da construção da identidade humana. A análise dos relatos dos sujeitos revela que a experiência adquirida extrapolou a mera aquisição de habilidades linguísticas e o aperfeiçoamento no idioma inglês, incialmente buscados como meio de melhor se posicionarem no mercado de trabalho e no mundo globalizado. Este estudo revela os sentidos que os jovens participantes atribuíram à prática do intercâmbio, assim como as experiências que os marcaram em sua estadia em outro país e outra cultura, mediadas pela aprendizagem da língua inglesa, assim como as repercussões dessa vivência na sua identidade.A experiência de intercâmbio revela-se como prática social para o desenvolvimento da interculturalidade e da educação intercultural, que fortalece a construção de identidades dinâmicas, abertas e plurais, contribuindo e estimulando o desenvolvimento da autoestima e autonomia dos sujeitos e de sociedades mais igualitárias. Os depoimentos fornecidos pelos intercambistas ratificam as observações e colocações de especialistas em educação sobre a importância e o valor da educação intercultural e mostram como a experiência do intercâmbio repercutiu no processo de “construção/desconstrução” de sua identidade. A maioria deles expressou quão significativa foi a oportunidade de entrar em contato com outra cultura e como essa experiência, em suas próprias palavras, foi “transformadora e única”, “abriu-lhes a mente”, gerando “nova visão de mundo”, ajudando-os no desenvolvimento de sua autonomia e autoestima e a superar preconceitos e a tornarem-se mais críticos e reflexivos. A análise dos relatos dos sujeitos revela que a experiência vivida favoreceu mudanças no seu modo de pensar e agir, proporcionando-lhes desenvolvimento cultural, pessoal e profissional, desenvolvimento da autoconfiança e crescimento em maturidade, desenvolvimento do respeito pela diferença e pela diversidade cultural, assim como consciência global. A análise dos dados coletados também evidencia o movimento, a fluidez e a dinâmica do processo de formação da identidade humana. Os resultados obtidos mostram que os intercambistas retornaram diferentes de quando partiram e plenamente conscientes dessas mudanças. Esses jovens intercambistas podem ser considerados embaixadores de sua própria cultura e agentes de futuras transformações sociais no sentido de uma sociedade e de um mundo mais abertos ao diálogo, que têm no horizonte a construção de um mundo melhor.


Palavras-chave


Intercâmbio cultural. Identidade. Língua Inglesa. Interculturalidade. Educação sociocomunitária.

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