Educação física adaptada inclusiva: impacto na aptidão física de pessoas com deficiência intelectual

Eliane Mauerberg-de Castro, Carolina Paioli Tavares, Ana Carolina Panhan, Thayná C. Parsaneze Iasi, Gabriella Andreeta Figueiredo, Marcela Rodrigues de Castro, Gabriella Ferreira Braga, Ana Clara de Souza Paiva

Resumo


O objetivo deste estudo foi, através de avaliação longitudinal de níveis de aptidão física de participantes com deficiência, examinar o potencial da atividade física adaptada usando estratégias de máxima participação e de oferta de atividades não sedentárias para melhora a saúde e qualidade de vida usando contextos de inclusão em um programa de extensão universitária (Programa de Educação Física Adaptada, Proefa). O Proefa trabalha dentro das abordagens inclusiva e desenvolvimentista e propõe a aplicação de dois princípios: máxima participação, e oposição à prática sedentária. Entre crianças e jovens com e sem deficiência espera-se um engajamento espontâneo com o exercício, o esporte e as atividades de lazer. Porém, enquanto os serviços de educadores físicos estão em alta demanda no mercado de trabalho, a realidade de consumo de hoje atesta um paradoxal impacto no aspecto do sedentarismo, refletindo-se no pobre desempenho motor e consequências metabólicas desastrosas entre jovens e adultos (tanto com, como sem deficiência). Serviços de atividade física adaptada na comunidade ou na escola baseiam-se em oferta de atividades motoras, jogos e exercícios estruturados no contexto de recreação, esporte, dança, atividades aquáticas, e atividades alternativas. Sabemos que a prática da inclusão intercala-se com a crença de que as diferenças valorizam as pessoas e facilitam a aprendizagem através da cooperação. Entretanto, dentro das turmas regulares, a deficiência —, e, por conseguinte, a diversidade —, tem deflagrado uma “fraqueza” na organização e execução da educação física. Muitos professores falham em coordenar as demandas de esforços e habilidades motoras de alunos com e sem deficiência porque subestimam o potencial do aluno com deficiência. Outro problema na educação física é a limitada oferta de aulas semanais dentro da escola e instituições. No presente estudo, os resultados da participação com a característica de dois encontros por semana apontaram para limitados ganhos nos aspectos de aptidão física pelos grupos do Proefa. Os parâmetros significativamente afetados pela experiência foram relacionados à capacidade cardiorrespiratória, potência de membros inferiores no salto horizontal e agilidade. Entretanto, muitos resultados nestes testes foram influenciados por fatores de limitação na coordenação motora e aparente incerteza sobre as suas metas. Além disso, parâmetros da pressão arterial foram ou permaneceram normalizados após a participação no Proefa. O Proefa, utilizando a estratégia de inclusão com tutores, ao materializar a filosofia da máxima participação e aplicação de atividades não sedentárias mostrou que é possível a participantes com deficiência intelectual modificarem vários parâmetros de aptidão física, mesmo com limitado número de encontros semanais.

Palavras-chave


atividade física adaptada; inclusão; aptidão física; deficiência intelectual

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