Construção de diagnósticos de saúde na agricultura familiar: uma iniciativa à luz do programa universidade sem fronteiras

Jaqueline Chaves de Oliveira, Cristina Berger Fadel, Juliana Regina Dias Lemos, Walquiria Mariany Kuhn

Resumo


A prática da extensão universitária visa interligar a instituição de ensino superior com o meio em que está inserida, no intuito de efetivar seu compromisso social. Desta forma, por meio do Programa Universidade sem Fronteiras, uma iniciativa do governo do Estado do Paraná, desenvolveu-se o projeto multidisciplinar “Construção de diagnósticos de saúde na agricultura familiar: promoção de ações para a saúde preventiva”, com participação dos departamentos de Odontologia e Enfermagem da Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR. Como finalidades específicas deste projeto, destacam-se conhecer condições socioeconômicas e subjetivas de saúde, em pré-assentados rurais do município de Ponta Grossa-PR. O campo de estudo foi o pré-assentamento Emiliano Zapata, localizado a 12 km do referido município. O desenvolvimento das ações sugeridas para esta comunidade foi delineado de forma conjunta com suas lideranças locais. Após o reconhecimento do território de abrangência, realizaram-se visitas a todos os domicílios (n=56) e procedeu-se ao levantamento de condições socioeconômicas e de saúde, por meio de entrevista ou de relatos espontâneos. Para os dados sociais e econômicos, utilizou-se um cadastro familiar, contendo informações relativas à renda, moradia, saneamento, serviço de saúde utilizado, ocupação, uso de plantas medicinais e escolaridade. As questões relativas à saúde relacionaram-se à presença de doenças ou de situações consideradas negativas, quando percebidas pela própria população. Com relação à saúde bucal, investigou-se a presença de dor e ou desconforto e o padrão de higienização bucal praticado. Ações de cunho educativo e preventivo foram realizadas não só individualmente nos domicílios, mas também de forma coletiva. Os dados obtidos foram registrados, analisados e expressos em frequências absolutas e relativas. A análise dos dados de campo revelou que 89,3% das famílias contam com energia elétrica, que a renda média mensal dos assentados concentra-se em até dois salários mínimos, que a população não tem acesso à água encanada e que possui, em sua grande maioria, baixa escolaridade; indicativos de condições sociais desfavoráveis. Como resultados alcançados no campo da saúde, destaca-se que 83,9% dos entrevistados apontam a Unidade Básica de Saúde (UBS) como referência em caso de agravos à saúde, apesar desta opção estar sempre precedida por tratamentos caseiros, desenvolvidos na própria comunidade. Com relação à percepção de saúde, 13,9% afirmaram possuir hipertensão, 0,9% diabetes, 1,8% cardiopatia, 10,2% varizes e 38,9% referiram outras doenças, dentre as quais prevaleceram a depressão, dores lombares e cefaleia. No que se refere ao tabagismo, 17,0% dos entrevistados relataram realizar sua prática, como fumantes ativos. No campo da saúde bucal, 80,8% dos entrevistados afirmaram escovar os dentes e 19,2% relataram não possuir escova de dente e não utilizar meio alternativo para a higienização de seus dentes ou cavidade bucal. Diante do exposto, conclui-se serem as condições de vida e de saúde dos moradores desta localidade repletas de precariedade, próprias de sua condição de pré-assentados, da falta de acesso a informações de saúde e de práticas culturais reconhecidas como inerentes ao universo rural.


Palavras-chave


População rural. Isolamento social. Saúde da população rural. Fatores socioeconômicos.

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