Avaliação do conhecimento sobre a leishmaniose visceral antes e depois de intervenção educacional em proprietários de cães da cidade de Cruz das Almas, Recôncavo da Bahia

Juliana Albuquerque de Brito, Rafael Anias dos Santos, Beatriz Costa de Mendonça, Raul Rio Ribeiro

Resumo


Considerando que a falta de informação e de atitudes preventivas são fatores perpetuantes de enfermidades parasitárias, o presente trabalho avaliou o impacto da educação em saúde sobre o conhecimento da leishmaniose visceral (LV) em proprietários de cães do município de Cruz das Almas, Bahia. Para tal, 162 proprietários voluntários, residentes em seis regiões pré-definidas, responderam a questionário acerca de aspectos diversos relacionados ao agravo. Ao final da entrevista, de maneira inteligível e com apoio de material informativo, informações básicas foram transmitidas aos participantes voluntários. Três meses após a intervenção educativa, cerca de 1/3 (37% = 60 moradores) dos moradores participantes, escolhidos aleatoriamente, foram reavaliados com relação ao grau de conhecimento acerca da LV a partir do mesmo questionário inicialmente empregado. Os resultados obtidos antes da ação educativa revelaram que apenas 5,5% (9/162) dos 162 entrevistados compreendiam o significado do termo zoonose e que somente 3,7% (6/162) souberam relatar ao menos um exemplo de enfermidade zoonótica. Houve, no entanto, aumento estatisticamente significativo (P<0,05) no conhecimento três meses após a intervenção, quando 28,3% (17/60) passaram a conhecer o termo zoonose e 18,3% (11/60) souberam relatar alguma zoonose acertadamente, o que representou acréscimo de quase cinco vezes em valores percentuais em ambos os parâmetros. Embora, ao início, cerca de 42% (68/162) dos proprietários se consideravam conhecedores da LV/calazar, somente 1,2% (2/68) foi capaz de informar corretamente sua forma de transmissão, valor este que aumentou (P<0,05) para 40% (24/60), quando da reavaliação. O papel que os cães desempenham na enfermidade, bem como o conhecimento sobre os ambientes de interesse para a reprodução de flebótomos, ambos apresentaram aumento estatisticamente significativo (P<0,05) de seus percentuais, de 1,2% (2/162) para 15% (9/60) e de 0% (0/162) para 21,7% (13/60), respectivamente, o que caracterizou o impacto das ações educativas. De maneira geral, a região que apresentou maior índice de conhecimento, foi também aquela que registrou o maior nível de escolaridade entre os voluntários, com cerca de 35,7% (5/14) de nível superior completo, o que contrasta com a realidade do município, haja vista que a média de graduados nas demais regiões foi da ordem de 4% (6/148), quase nove vezes menor. Considerando o baixo grau de informação da população alvo, o caráter incipiente da zoonose no município e a comprovação do impacto das atividades educativas no conhecimento sobre o agravo, conclui-se sobre a necessidade de manter e expandir as práticas de educação em saúde voltadas ao controle da LV, no município, propiciando a orientação dos moradores sobre hábitos e manejo ambientais domiciliares/peridomiciliares favorecedores do ciclo de transmissão da enfermidade.


Palavras-chave


Educação em Saúde, leishmaniose visceral, Cruz das Almas-BA.

Texto completo:

PDF

Referências


ALVES, V. S. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 9, n. 16, p. 39-52, 2005.

ALVES, W. A.; BEVILACQUA, P. D. Reflexões sobre a qualidade do diagnóstico da leishmaniose visceral canina em inquéritos epidemiológicos: o caso da epidemia de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 1993-1997. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 259-265, 2004.

BORGES, B. K. A. et al. Avaliação do nível de conhecimento e de atitudes preventivas da população sobre a leishmaniose visceral em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 4, p. 777-784, 2008.

COSTA, C. H. N. How effective is dog culling in controlling zoonotic visceral leishmaniasis? A critical evaluation of the science, politics and ethics behind this public health policy. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 44, n. 2, p. 232-242, 2011.

GAMA, M. E. A. et al. Avaliação do nível de conhecimento que populações residentes em áreas endêmicas têm sobre leishmaniose visceral, estado do Maranhão, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 14, p. 381-390, 1998.

GENARI, I. C. C. et al. Atividades de educação em saúde sobre leishmaniose visceral para escolares. Veterinária e Zootecnia, v. 19, n. 1, p. 99-107, 2012.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico. Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2014.

LIMA, A. M. A. et al. Percepção sobre o conhecimento e profilaxia das zoonoses e posse responsável em pais de alunos do pré-escolar de escolas situadas na comunidade localizada no bairro de Dois Irmãos na cidade do Recife (PE). Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 1457-1464, 2010.

LOBO, K. S. et al. Conhecimentos de estudantes sobre Leishmaniose Visceral em escolas públicas de Caxias, Maranhão, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 8, p. 2295-2300, 2013.

MADEIRA, N. G. et al. Education in primary school as a strategy to control dengue. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 35, n. 3, p. 221-226, 2002.

MATHERS, C. D.; EZZATI, M.; LOPEZ, A. D. Review Measuring the burden of neglected tropical diseases: the global burden of disease framework. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 1, n. 2, p. 114, 2007.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Leishmaniose visceral: recomendações clínicas para redução da letalidade, Brasília, DF, p. 78, 2011.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Situação epidemiológica das zoonoses de interesse para a saúde pública. Boletim eletrônico epidemiológico, Ano 10, n. 2, 2010. Disponível em: . Acesso em: 27 nov. 2011.

MOREIRA, R. da C. R. et al. Nível de conhecimento sobre Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) e uso de terapias alternativas por populações de uma área endêmica da Amazônia do Maranhão, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, p.187-195, 2002.

SHAW, J. J. New world leishmaniasis: the ecology of leishmaniasis and the diversity of leishmanial species in central and south America. In: FARRELL, J. World class parasites: Leishmania. 4. ed. London: Kluwer Academic Publishers, 2003.

SCHALL, V. T. et al. Health education in first level schools at the outskirts of Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil: I. Evaluation of a health education program on schistosomiasis. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, São Paulo, v. 35, n. 6, p. 563-572, 1993.

SCHALL, V. T. Alfabetizando o corpo: o pioneirismo de Hortênsia de Hollanda na educação em saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 15, p. 149-159, 1999. (Sup. 2).

UCHOA, C. M. A. et al. Educação em saúde: ensinando sobrea leishmaniose tegumentar americana. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, p. 935-941, 2004.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). International travel and health: disease information. Disponível em: . Acesso em: 25 abr. 2014.

WORLD HEATH ORGANIZATION (WHO). World Health Organization: Leishmaniasis: Background Information. Disponível em: . Acesso em: 15 fev. 2011.




Creative Commons License
Revista Ciência em Extensão by Pró-Reitoria de Extensão Universitária e Cultura - UNESP - Brasil is licensed under a Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.
Based on a work at ojs.unesp.br.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/about/editorialPolicies#custom0.