Diversidade em extensão universitária

Eduardo Galhardo, Angela Cristina Cilense Zuanon, Maria Candida Soares Del-Masso, José Arnaldo Frutuoso Roveda

Resumo


A Revista Ciência em Extensão (RCE) apresenta, no segundo número de 2018, quinze trabalhos provenientes de Instituições de Ensino Superior desde o Rio Grande do Sul ao Amazonas, e novamente destacamos a abrangência da RCE no cenário nacional divulgando as ações e atividades de Extensão Universitária desenvolvidas em diferentes contextos sociais e acadêmicos.

As estatísticas de acesso por meio da análise de tráfego no Portal da Revista realizada mediante o sistema Google Analytics, atividade que acompanhamos em todos os volumes para demarcar o seu crescimento, apontou desde a publicação do primeiro número em março de 2018 até 23 de junho de 2018 54.305 visualizações de páginas de 21.238 de visitantes de 49 países. A análise de cobertura regional - Brasil, demonstrou que 96,7% das visitas foram provenientes de 924 cidades. Nesta edição verificamos o aumento no acesso às páginas em mais de 7.000 visualizações de páginas com o crescimento de mais 95 cidades do Brasil e exterior em comparação ao primeiro número deste ano. Até a finalização deste volume, em junho de 2018, foram submetidos 61 trabalhos novos trabalhos incluindo 3.320 usuários cadastrados entre leitores, autores e novos avaliadores ad hoc. Em fluxo continuo, atualmente a RCE possui 17 artigos aceitos e já em edição, 135 artigos em avaliação e 16 trabalhos recém-submetidos.

Nesta 2ª edição de 2018, a RCE apresenta 4 artigos científicos sendo dois deles da USP, 1 da UNESP e 1 da Universidade Federal do Maranhão, UFMA; 10 relatos de experiências em extensão universitária provenientes 8 Instituições de diferentes regiões do país sendo 2 da UNESP, e os demais advindos da: unipampa, Unifesp, UFam, UFPi, Uepg, Uems, Uece, fUrg e 1 relato de opinião. Destes trabalhos, 6 são da área da saúde, 5 da área da educação, 2 da área de ciências agrárias e veterinárias, 1 da área de meio ambiente e 1 da área de Direitos Humanos. Essa diversidade de locais e instituições demarcam o grande potencial da Extensão Universitária embora ainda em passos lentos em nosso país.

A Extensão Universitária embora amplamente difundida no contexto das Universidades ainda carece de discussões e análises acerca da sua efetividade e de seu impacto no contexto para além dos muros da academia. O primeiro artigo deste segundo volume da RCE intitulado ARTICULAÇÃO ENTRE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO: UM DESAFIO QUE PERMANECE, de José Fernando Andrade Costa, apresenta, com propriedade, reflexões sobre a real – e ideal função – da Extensão Universitária no contexto universitário.

O autor resgata reflexões suscitadas durante o I Seminário de Cultura e Extensão do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), realizado em 2017, ocasião na qual foi possível compartilhar os resultados de atividades extensionistas desenvolvidas no âmbito da Psicologia Social e dos Direitos Humanos, conforme destacou. A Extensão Universitária no cotidiano acadêmico-científico ainda representa um grande desafio quando articulado ao ensino e pesquisa. É interessante citar que o autor apresenta dados que somam às ações extensionistas estudos gerados a partir do ensino de pós-graduação, associado à pesquisa que favorece uma nova práxis em extensão universitária, analisando, inclusive, a tendência em atribuir alto valor ao produtivíssimo acadêmico.  Cabe destacar, conforme cita o autor que “Para avançarmos no sentido de construir serviços e ações extensionistas de qualidade prestados às comunidades, é importante observar com atenção os desafios que se colocam, no cotidiano, como entraves à integração entre pesquisa, ensino e extensão universitária”. Para além dessa questão, finaliza sua análise enfatizando que o “trabalho acadêmico não está ‘fora’ da sociedade e a Universidade não é uma ‘bolha’ (ou torre de marfim) alheia aos problemas enfrentados cotidianamente por suas comunidades [...]” fortalecendo a responsabilidade social da Universidade que se dá, na maioria das vezes, mediantes as ações de Extensão Universitária.

O artigo seguinte de Bego e Silva - A INDISSOCIABILIDADE ENTRE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NO PIBID, vem ao encontro das discussões do artigo anterior ao agregar valor ao papel da Extensão Universitária realizada no processo de planejamento, implementação e avaliação de ações em uma Unidade Didática Multiestratégica (UDM) contextualizada e problematizadora de matemática em uma unidade escolar da rede estadual pública do município de Araraquara - SP. Os autores, mediante uma proposta educacional fortalecem a atividade extensionista levando-a para além dos muros da Universidade, postura que demarca a dissociabilidade dessa atividade com o ensino gerando pesquisa e novos conhecimentos.

Outro tema de grande significância nas ações extensionistas está relacionado ao envelhecimento humano, em crescimento exponencial no Brasil. Nas atividades com esse grupo de pessoas são necessários treinamentos e formações profissionais para que os idosos recebam os cuidados adequados quer no grupo familiar, quer em instituições dia ou de longa permanência. No artigo PERFIL DOS CUIDADORES DE IDOSOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA DE IMPERATRIZ – MA, Maia e colaboradores abordam de forma interessante o outro lado da questão, o olhar para o profissional que cuida dos idosos, suas necessidades, seus estresses, suas necessidades no cotidiano da atividade profissional.

No estudo realizado pelos pesquisadores em uma instituição de longa permanência identificaram junto aos Cuidadores, profissão em crescimento no Brasil, a necessidade de cuidados também a esses profissionais destacando que precisam de suporte dos serviços de saúde para prevenir e/ou minimizar a sobrecarga de trabalho e possíveis enfermidades. O estudo também evidenciou a importância em conhecer as dificuldades institucionais vivenciadas pelos cuidadores, no olhar para a reorganização dos serviços de assistência ao idoso institucionalizado o que viria a favorecer não somente o desempenho da função de Cuidador, mas o adequado atendimento aos idosos que vivem nas instituições. Finalizando, os autores apontam para a necessidade de realização de cursos, em diferentes níveis, para formar adequadamente os profissionais Cuidadores de Idosos.

O último artigo desta seção intitulado PRODUÇÃO, BENEFICIAMENTO E ADEQUAÇÃO À LEGISLAÇÃO DO PÓLEN APÍCOLA DESIDRATADO, PRODUZIDO NO BRASIL, Melo e colaboradores realizaram ações junto aos produtores do pólen apícola visando identificar as práticas adotadas durante o beneficiamento do produto. Nas atividades práticas junto aos pequenos e médios produtores os pesquisadores observaram o cotidiano profissional e, mediante entrevistas, buscaram dados quanto as ações realizadas e as possíveis dúvidas e necessidades desses produtores. O estudo sugere, embora não claramente pontuado pelos autores, a necessidade de cursos de extensão universitária para os produtores esclarecendo dúvidas e preparando-os para ações profissionais mais lucrativas.

A seção seguinte Relatos de Experiências Extensionistas e artigos de opinião apresenta em seu primeiro texto de Machado Filho e colaboradores, Jogo para celular como instrumento de educação em saúde bucal.

Nosso atual momento de uso e acesso a diferentes tecnologias, inclusive com acessibilidade, é o espaço ideal para que ações que visem a educação em saúde sejam repensadas, disseminadas e agregadas mudanças apropriando-se de métodos pedagógicos participativos. Nas atividades do Projeto de Extensão Universitária “Nós na Rede: Contribuições da Odontologia para Educação, Prevenção e Manutenção da Saúde”, no uso do ‘Jogo para Celular’, atividade interativa com os pacientes, os profissionais puderam disseminar informações básicas relacionadas à saúde bucal junto a adolescentes, favorecendo a construção de novos conhecimentos, hábitos e cuidados. A proposta consistiu de perguntas e respostas, distribuídas em três fases de dificuldade, abordando mitos e verdades que acometem o campo odontológico. Finalizando, os autores apontaram que as atividades lúdicas são facilitadoras para o compartilhamento de informações, além de motivar a população alvo em busca de condutas mais saudáveis.

No texto seguinte os autores Moraes e Galdino apresentam o relato de experiência A EXTENSÃO NA ESCOLA: AÇÕES PARA A guarda responsável de animais de estimação, o qual está relacionado ao Projeto de Extensão Universitária “Cãovivendo com qualidade de vida”, executado na Escola Estadual Castelo Branco (EECB) em Mundo Novo/MS. As atividades foram realizadas por meio de oficinas, as quais divulgaram informações sobre as características dos animais domésticos, os impactos da sua superpopulação na área urbana, e atividades que estimulam a guarda responsável de animais.

O Projeto de Extensão FORMAÇÃO DE GRÊMIOS ESTUDANTIS EM ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE BAURU, apresentado por Bulhões e colaboradores foi realizado junto ao Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), campus de Bauru - SP, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Bauru - SP (SME). O projeto, aplicado em escolas da Rede Municipal, buscou orientar e organizar os alunos mediante a implementação de grêmios estudantis, tendo em vista a construção de gestões escolares democráticas e participativas. As atividades, que ocorreram por meio de encontros entre alunos do curso de psicologia e alunos do ensino fundamental I e II e procuraram oferecer as crianças consciência de atuação participativa em todos os espaços coletivos dos quais pertencem.

O próximo relato, EDUCAÇÃO PARA A CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE ANIMAIS DOMÉSTICOS E SILVESTRES, apresentado por Góes e colaboradores, apontou o aprendizado de alunos de uma Escola Pública Municipal em São Gabriel, Rio Grande do Sul, relacionado à guarda animais domésticos, enfatizando as condições de abrigo, alimentação e saúde, além da importância de proteger e conservar os animais silvestres. Após palestras sobre o tema e aplicação de questionários, observou-se que o conhecimento sobre animais domésticos é maior do que sobre animais silvestres e que mais abordagens devem ser feitas para que os alunos possam realmente aprender e desenvolver ações de responsabilidade para com os animais com impacto no meio ambiente.

O texto MINICURSO SOBRE CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO PÓS-TRANSPLANTE RENAL E HEPÁTICO, quinto desta seção, relata um projeto que foi desenvolvido na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que contou com a participação de oito estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem para o seu desenvolvimento e realização.

O minicurso teve o objetivo de instrumentalizar os estudantes de enfermagem em relação aos cuidados de pós-operatório imediato de pacientes que passaram por transplante renal e hepático. O curso foi dividido em três etapas: aula expositiva, leitura complementar e atividade teórico-prática tendo como público alvo os próprios estudantes de Enfermagem da FURGS e, segundo os autores, todos os quarenta participantes relataram que o minicurso supriu suas expectativas e que tal evento pode suprir uma lacuna no Curso de Enfermagem, possibilitando assim uma melhor formação para os futuros enfermeiros, demonstrando a interação de uma ação extensionista com o ensino. 

O objetivo do relato de experiência intitulado ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE CITOLOGIA E HISTOLOGIA PARA OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO foi oferecer, à alunos do Ensino Médio, a possibilidade de aprender Citologia e Histologia de uma forma mais lúdica, com o auxilio de aulas mais práticas, pensadas, elaboradas e realizadas pelos discentes participantes do Projeto de Extensão Universitária. Acrescido a isso, houve também a intenção de consolidar um manual de protocolos para as aulas de Biologia Celular e Histologia dos cursos de Ciências Naturais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O público alvo foi o corpo discente dos alunos de Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) e a duração do projeto foi de dois semestres. Segundo os autores, os objetivos propostos foram amplamente atingidos, possibilitando aos estudantes do Ensino Médio um aprendizado mais dinâmico a respeito do tema tratado, além de organizar o protocolo e a viabilidade das práticas feitas pelos docentes em conjunto com os discentes participantes do projeto.

Ainda sobre o tema Biologia, o relato MUSICALIZANDO A BIOLOGIA: CANTANDO E ENCANTANDO ATRAVÉS DE PARÓDIAS, realizado junto ao Projeto de Extensão Universitária de mesmo nome, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará / Universidade Aberta do Brasil (UECE/UAB), Lima e colaboradores tiverem como objetivo produzir paródias abordando temas relacionados ao ensino de Biologia. Toda a metodologia utilizada na elaboração das paródias foi descrita no texto, assim como alguns links de vídeos sobre as paródias, tanto quanto as letras das músicas, favorecendo a aprendizagem do conteúdo de biologia.

Os autores apontaram a produção de doze paródias, que foram levadas às escolas, cuja proposta foi não só apresentar as músicas elaboradas, como também oferecer uma oficina de produção de paródias, fazendo com que o projeto atingisse a comunidade extra muros, principal propósito da Extensão Universitária.

No oitavo relato desta edição, o projeto desenvolvido na cidade de Rosana, interior de São Paulo, apresenta o texto SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM ASSENTAMENTOS RURAIS: APLICAÇÃO NO MUNICÍPIO DE ROSANA, SP, BRASIL, cujo objetivo foi capacitar pequenos produtores assentados pela reforma agrária em novos métodos de produção, tais como os sistemas agroflorestais, permitindo uma melhor qualidade de solo, de água e da biodiversidade, ou seja, do ambiente como um todo. Os autores apontaram que para que isso fosse possível, foi realizado um levantamento do perfil dos assentados e das características dos lotes para então definir quais sítios receberiam os módulos de SAF. Os dados resultantes da ação, que foram acompanhados por 4 anos pelos pesquisadores, apontou a importância não somente na disseminação das técnicas e conceitos aos assentados, mas no contato direto com o grupo e acompanhamento e monitoramento das atividades realizadas.

O texto seguinte, EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE SEXUALIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL, Silva Junior e colaboradores relatam uma ação extensionista de educação em saúde tendo como foco alunos do ensino fundamental. Embora a temática da sexualidade seja amplamente difundida, além de compor conteúdo curricular nacional, a sexualidade e corporalidade ainda carece discussões pontuais com profissionais da área de saúde visando esclarecer mitos e equívocos ligados ao sexo e as doenças relacionadas. Os autores destacaram que quando alguns adolescentes referiram a essa temática, pouco conversavam sobre o assunto com algum familiar e quando o faziam sempre ocorriam barreiras nos discursos dos adultos, o que resultava em respostas infantilizadas, afastamento ou desvio do assunto. Os resultados sugeriram a necessidade de ampliar o Programa de Extensão “Lá Fora” para outras escolas, além do desenvolvimento de recursos como cartilhas sobre os temas autocuidado, métodos contraceptivos, DST’s e gravidez na adolescência e a criação de um aplicativo para dispositivos móveis, a fim de trabalhar esses conteúdos dentro do ambiente escolar.

No relato PRÁTICAS EDUCATIVAS EM PRIMEIROS SOCORROS: RELATO DE EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA, Moura e colaboradores trazem uma importante contribuição para o contexto educacional ao descreverem as ações extensionistas decorrentes das Oficinas de Primeiros Socorros realizadas por estudantes de Enfermagem. Os resultados demonstraram a importância da inserção de conhecimentos de primeiros socorros em ambiente escolar e no próprio cotidiano social auxiliando em situações que colocam em risco a vida.

O texto que encerra este volume intitulado MULHERES NA CIÊNCIA: PAPEL DA EDUCAÇÃO COM IGUALDADE DE GÊNERO, apresenta a reflexão sobre a participação feminina na Ciência com o objetivo de incentivar a inserção e a permanência das mulheres, em especial nas Ciências duras: Física, Matemática e Química. O relato decorre do o evento de extensão Mulheres na Ciência,que é promovido anualmente, desde 2014, pelo Instituto de Química da UNESP, campus de Araraquara, cujo eixo é a desmitificação da ciência como atividade exclusivamente masculina, incentivando a participação e permanência feminina neste campo de atuação. Ao final, Lazzarini e colaboradores apontaram que apesar da adversidade a desigualdade de gênero tem sido superada. Para as mulheres que anseiam por uma trajetória científica, é imprescindível acreditar em suas potencialidades para assim quebrar este ciclo vicioso de participação minoritária no campo científico.

Boa leitura!

Palavras-chave


Divulgação Científica, Extensão Universitária

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