A extensão universitária e a prevenção da violência obstétrica

Thamiles Sena da Silva, Rosana Oliveira de Melo, Mariana Pompeu Sodré, Rita de Cássia Rocha Moreira, Zannety Conceição Silva do Nascimento Souza

Resumo


A violência obstétrica se caracteriza pela apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, através do atendimento desumanizado, medicalização e uso de processos artificiais, causando a perda da autonomia e da capacidade de decidir livremente sobre seus corpos e sua sexualidade, impactando negativamente a qualidade de vida de mulheres. Este trabalho acadêmico objetiva relatar a experiência de docentes e discentes em ações extensionistas, com práticas de educação em saúde para a prevenção da violência obstétrica, entre as mulheres atendidas por um projeto de extensão de uma Universidade Pública Estadual na Bahia. Trata-se de um relato de experiência de integrantes de um núcleo de extensão e pesquisa cujas atividades foram desenvolvidas no período de fevereiro a dezembro de 2015, com gestantes atendidas em Unidade Básica de Saúde (UBS) de um município baiano. Realizaram-se as seguintes atividades: atendimento clínico em pré-natal, práticas educativas em saúde, como roda de conversa e capacitação para profissionais de saúde sobre a importância da atenção humanizada à mulher em transcurso parturitivo. As práticas educativas em saúde mostram-se como uma estratégia de caráter efetivo quando o objetivo ofertar informações a uma determinada clientela. Um recurso, por meio do qual, o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde, alcança o cotidiano das pessoas, e se constitui como um conjunto de práticas para a promoção da saúde e prevenção de agravos. A execução das rodas de conversa com apresentação e distribuição de cartilhas despertou interesse das gestantes e seus acompanhantes em sala de espera em conhecer estratégias que possam evitar e prevenir a violência obstétrica. Esse modelo didático possibilita aproximação do estudante com as gestantes, pois incentiva o acolhimento e permite o desenvolvimento intelectual e cognitivo necessários em uma ação educativa. No que diz respeito ao atendimento clínico, foi possível reconhecer a satisfação das mulheres ao serem atendidas pelas estudantes bolsistas e voluntárias, e pelas docentes do projeto de extensão. As consultas clínicas se configuraram como um momento de escuta e diálogo entre gestantes e profissionais, o que tornou possível a formação de vínculos e favoreceu a resolubilidade das situações de saúde demandadas pelas gestantes.  A capacitação dos ACS representou um elo a mais na cadeia de consolidação do movimento em defesa da atenção ao Parto Humanizado, ou seja, uma forma de dizer não à violência obstétrica, uma vez que um dos temas abordados nessa capacitação foi a presença do acompanhante durante o pré-natal, parto e puerpério, garantida pela lei 11.108 de 2005. Assim, a capacitação também se configurou como uma ampliação das ações de extensão, pois, tem-se agora um maior número de pessoas que socializa indiretamente a defesa da não violência obstétrica. Os resultados das atividades de extensão podem possibilitar um novo corpo de conhecimento e vivências que se agregam à teoria apreendida pelos acadêmicos, além de permitir a consolidação das políticas públicas de atendimento à mulher, em especial com vistas à redução da violência obstétrica, bem como, a diminuição dos índices de morbimortalidade materna e infantil no município.


Palavras-chave


Educação em saúde; Violência obstétrica; Pré-natal

Texto completo:

PDF

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília, 13 jun. 2013. p. 59. Disponível em: . Acesso em: 18 maio 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012b. Disponível em: . Acesso em: 23 mar. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Caderno de Atenção Básica. Brasília, 2012a. Disponível em: .Acesso em: 6 fev. 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Brasília, 2009b. Disponível em: . Acesso em: 3 mar. 2016

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Área Técnica de Atenção Básica. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília, 2009c. Disponível em: . Acesso em: 10 mar. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde. Brasília: 2009a. Disponível em: . Acesso em: 3 mar. 2016.

CIELLO, C. et al. Violência Obstétrica: “Parirás com dor”. Dossiê elaborado pela rede Parto do Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. [S.l.:s.n.], 2012. Disponível:. Acesso em: 15 mar. 2016.

COELHO, M. O.; JORGE, M. S. B. Tecnologia das relações como dispositivo do atendimento humanizado na atenção básica à saúde na perspectiva do acesso, do acolhimento e do vínculo. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, p. 1523-1531, 2009. Suplemento 1. Disponível em: . Acesso: 13 mar. 2016.

CUNHA, C. C. A. Violência Obstétrica: uma análise sob o prisma dos direitos fundamentais. 2015. 46 f. Monografia (Graduação em Direito). Universidade de Brasília. Brasília – DF, 2015.

DINIZ, C. S. G. et al. Implementação da presença de acompanhantes durante a internação para o parto: dados da pesquisa nacional Nascer no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 30, p. S140-S153, 2014. Suplemento 1. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/csp/v30s1/0102-311X-csp-30-s1-0140.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2016.

DUARTE, S. J. H.; BORGES, A. P.; ARRUDA, G. L. Ações de enfermagem na educação em saúde no pré-natal: relato de experiência de um projeto de extensão da Universidade Federal do Mato Grosso. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, Divinopolis, v. 1, n. 2, p. 277-282, abr./jun. 2011. Disponível em: . Acesso em: 27 mar. 2016.

FALKENBERG, M. B. et al. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 847-852, 2014. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2016.

FORPROEX. Política nacional de extensão universitária. [S.l.:s.n.], 2012. Disponível em:. Acesso em: 6 fev. 2016.

GIL, S. T. Breve análise sobre a violência obstétrica no Brasil. In: Colóquio Nacional Representações de Gênero e suas Implicações. 2000. Anais. Paraíba. 2015.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas de população para 1º de julho de 2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. Disponível em: . Acesso em: 18 maio 2015.

KONDO, C. Y. et al. Violência obstétrica é violência contra a mulher: mulheres em luta pela abolição da violência obstétrica. São Paulo: Fórum de Mulheres do Espirito Santo, 2014.

LEAL, M. C.; GAMA, S. G. N. Nascer no Brasil: Cad. Saúde Pública, vol.30, supl.1. Rio de Janeiro, 2014. p. S5. Disponível em: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/arquivos/anexos/nascerweb.pdf. Acesso em: 3 mar. 2016.

MOREIRA, M. E. L et al. Práticas na atenção ao recém-nascido. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 30, p. S128-S139, 2014. Suplemento 1. Disponível em: . Acesso em: 27 mar. 2016.

NERY, A. A et al. Saúde da família: visão dos usuários. Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 397-402, jul./set., 2011. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2016.

OMS - Organização Mundial da Saúde. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde. Genebra: OMS, 2014. Disponível em: . Acesso em: 6 fev. 2016.

REZENDE, J. O Parto: estudo clínico e assistência. In: REZENDE, J. Obstetrícia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 336-362.

SAMPAIO, J. et al. Limites e potencialidades das rodas de conversa no cuidado em saúde. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 18, p. 1299-1312, 2014. Suplemento 2. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2016.

SANTANA, M. A. et al. Perfil de gestantes e acompanhantes das oficinas para o parto acompanhado. Cogitare Enfermagem, v. 17, n. 1, p. 106-112, jan./mar. 2012. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2015.

SILVA, F. C. B.; BRITO, R. S. Percepção de gestantes acerca das atitudes do companheiro diante da sua ausência no pré-natal. Revista Rene, Fortaleza, v. 11, n. 3, p. 95-102, jul./set. 2010. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2015.

SOUZA, K. J. Violência institucional na atenção obstétrica: proposta de modelo preditivo para a depressão pós-parto. 2014. Disponível em: Acesso em: 6 fev 2016.

UFES - Universidade Estadual de Feira de Santana . Núcleo de Extensão e Pesquisa em Saúde da Mulher – NEPEM. Feira de Santana: UEFS, 2015. [Folder elaborado para a divulgação do núcleo]




Creative Commons License
Revista Ciência em Extensão by Pró-Reitoria de Extensão Universitária e Cultura - UNESP - Brasil is licensed under a Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.
Based on a work at ojs.unesp.br.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/about/editorialPolicies#custom0.